sábado, 23 de maio de 2009

Tá na palma da mão!

Sabe aquelas lembranças super agradáveis que te dão vontade de voltar no tempo? A primeira pedalada de bicicleta que te fazia pensar em viajar por todo o mundo. O abraço apertado de quem já não está com você. As brincadeiras de criança que você levava super a sério. Seu primeiro vídeo game, naquela “versão Atari” (lembro da quase supermariolatria do Nintendo 64!). Sua formatura do jardim de infância que te fazia sentir um formando de medicina, diante de tantos flashes. Pois bem... Inúmeras são as boas lembranças, não é verdade?

Hoje, a lembrança que mais bateu à porta de minha memória foi a dedicação de mamãe em se mostrar presente sempre (até mesmo quando ela não estava fisicamente próxima de mim). Sei que muitos dirão isso, mas a minha mãe é a melhor mãe do mundo! Engraçada, charmosa, expert em bolo de chocolate, pequenina, sábia, conselheira... Qualidades de montão! Sim, papai também é gente boa. Um dia, dedico um post ao meu velho...

De todas as lembranças que tenho da minha mãe, a que mais me encanta se refere a sua sensibilidade. Quando, por algum motivo, ela não conseguia me acordar com seu sorriso e saudação de bom dia, deixava a marca de seu beijo na minha mão. Ah! Você sabe, né? Nos anos 80/início dos 90, o batom era um bom carimbo... Ou você não assistia ao Xou da Xuxa? Carinhosa e sabiamente, minha mãe soube usar deste carimbo muito bem pra me dizer: “Estive aqui e te beijei. Não se preocupe. Mamãe já volta.” Assim, te pergunto: tem algo mais pessoal e próximo da vista que as mãos? Não é à toa que muita gente, na falta de um bloco de notas, agenda ou simples folha de papel, escreve na(s) mão(s).

Curiosamente, relacionei os cravos que feriram as mãos de Cristo na cruz do madeiro como marcas/carimbos de seu amor por mim. Quando abri meu coração a Cristo, confessando a Ele o meu pecado, me tornei Seu filho. E sabe o que Ele fez? Gravou o meu nome em Suas mãos. Tem como Ele me esquecer? De forma alguma! Tá na palma da mão! Aleluia! Graças a Deus!

Haverá mãe que possa esquecer seu bebê que ainda mama e não ter compaixão do filho que gerou? Embora ela possa esquecê-lo, eu não me esquecerei de você! Veja, eu gravei você nas palmas das minhas mãos; seus muros estão sempre diante de mim.” (Isaías 49:15-16)

sábado, 16 de maio de 2009

Cruz Credo! [parte II]


Não acredito em treinamentos evangelísticos pra impactar gente, se não há comprometimento em conhecer essa gente. Creio que preciso cair na graça do povo.

Não acredito em congressos de avivamento espiritual, se não há mudança de mente e coração. Creio na metanoia.

Não acredito que vamos alcançar o mundo pra Cristo com nossas marchas, panfletagens, gritarias que incomodam a vizinhança próxima da igreja... Creio que é o Espírito quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo.

Não acredito em liderança relacionada à idéia de “último topo da montanha”: quantidade de membros/seguidores, participação de “palestras sobre liderança”, títulos... Creio que liderar é servir: mordomia.

Não acredito no cristianismo das irmãs de oração que passam mais tempo na igreja do que batendo um papo com seus filhos (alguns, afastados do evangelho). Creio que o ativismo religioso é uma fuga [1].

Não acredito em crentes que projetam templos faraônicos, ao mesmo tempo em que há gente passando fome nos arredores. Creio numa igreja relevante às necessidades sociais de sua “Jerusalém”: solidariedade.

Não acredito que títulos qualifiquem alguém como espiritual. Assumir vários cargos pode ser uma desculpa para não estar em família, por exemplo. Creio que o ativismo religioso é uma fuga [2].

Não acredito que profissão seja o inverso de missão. Creio na missão integral.

Não acredito no “mais novo método de evangelização”. Creio que minha vida é o melhor método para levar alguém a Cristo: discipulado.

Não acredito que tenho a obrigação de pagar cachê pra ministro bacana. Creio na oferta voluntária.

Não acredito na teologia da prosperidade. Creio que a Graça de Deus é o suficiente.

Não acredito nos livros/blogs de auto-ajuda, com todas as suas boas intenções. Creio na comunhão entre os crentes: mutualidade.

Não acredito na oração como varinha de condão ou lâmpada mágica do Aladim. Creio na soberania de Deus.

Não acredito em pessoas perfeitas. Creio que exista gente (inclusive a minha pessoa) sendo aperfeiçoada: santificação.

Não acredito na religião: faça isso, não faça aquilo... Creio que cristianismo é estilo de vida.

Não acredito em Papai Noel. Creio em Papai do Céu.

Agora, como diz o meu avô paterno:
- Quer me enganar? Então, me dá uma bala Juquinha...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Integral ou desnatado? [parte II]


Um dos grandes desafios da igreja cristã (pós) moderna é compreender sua vocação missionária. Lembro de meus tempos de garoto, na “escolinha dominical”. Desde pequeno, ouço falar de meu compromisso de compartilhar Jesus. Hoje, aos 22 anos de idade, me lembrei de um corinho infantil da época em que não existia a “dança do pingüim”: Eu vou crescer, eu vou crescer.../Crescer, crescer, crescer... /Crescer para Jesus./E quando eu estiver desse tamanho assim (hora de dar um pulo daqueles!),/eu quero trabalhar pra meu Jesus, sem fim! (“Tra-la-la...”)

Saudosismos à parte, estive pensando na possibilidade "desnatada" de se interpretar os versos finais dessa inocente canção: “E quando eu estiver desse tamanho assim,/eu quero trabalhar pra meu Jesus, sem fim!”. Sem nos darmos conta, corremos o risco de passarmos uma idéia errada do cristianismo as nossas crianças – como se não bastasse a compreensão distorcida da missão cristã por parte de alguns adultos... O que é “trabalhar pra meu Jesus, sem fim!”? O cristianismo do tipo desbravador, cruzadista, no estilo Indiana Jones? Aquele que o “vocacionado” enxerga Deus um “estraga prazer”? Creio que essa canção deve ser bem compreendida, pra que entendamos – finalmente – o que se tem nomeado de missão integral.

Antes mesmo de Ariovaldo Ramos, Francisco de Assis foi uma das pessoas que explicou o que é missão integral: “Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras.” Percebemos, através dessa máxima franciscana, que pregar o evangelho não exige “palavras bonitas” – muito menos ensaiadas! (I Cor. 2.4) Pregar o evangelho não exige diploma de teologia. Pregar o evangelho não exige ser pastor de igreja. Pregar o evangelho não exige nível superior. Pregar o evangelho não exige ser “gente grande”! Pregar o evangelho exige viver o evangelho, na dependência de Deus – tal como uma criança depende de seu pai, diga-se de passagem. Não pretendo bancar o polêmico, procurando agulha no palheiro, através da análise do antigo corinho. De forma alguma! No entanto, se me permite, gostaria de sugerir uma importante reforma no último verso da musiquinha. Ainda que a métrica fique ruim, para o bem da missão (que também é infantil), sugiro: “E quando eu estiver desse tamanho assim,/eu quero continuar trabalhando pra meu Jesus, sem fim!”

Lembro de outro corinho infantil que – graças a Deus! – não precisa de reforma, pois sua letra expressa muito bem a integralidade da missão:

Posso ser um missionariozinho,
Se falar de Cristo ao companheirinho;
Posso trabalhar em minha terra

Manda-me, pois, Senhor!

Não preciso atravessar os mares
Para dar aos outros novas salutares;
Posso fornecer sustento aos outros

Que meu Senhor mandou.

Hei de orar e trabalhar fielmente;
Caso Deus me chame seguirei contente
Para os campos que vão branquejando

Dispõe de mim, Senhor.

Posso ser um missionariozinho (Harold Deal/Henry Dekoven Bartells)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Max Weber e a xerox, na repartição.


"O que você vai ser quando crescer?". Quando era criança, respondia: jogador de futebol... Quando virei um rapazinho, assistindo ao Plantão Médico - seriado que passava na Globo, aos domingos -, respondia: médico (do tipo aventureiro, sabe?)... Quando era adolescente, queria impactar o mundo; por isso, respondia: ajudar as pessoas. A verdade é que pra ajudar as pessoas, a gente não precisa ser "doutor". Descobri que eu queria estudar a história da sociedade; a partir daí, analisar as relações/interações sociais ao longo do tempo, através da cultura dos povos. Bem... essa foi uma tentativa de explicar a razão de ter escolhido cursar Ciências Sociais. A verdade é que até hoje vou achando outras explicações... Sou feliz! Ciências Sociais é um curso que me faz aplicar o que estudo em sala de aula no meu cotidiano.

A sociologia, uma das ramificações das Ciências Sociais, apresenta diferentes "pontos de vista" acerca da presença dos indivíduos em sociedade. Com vocês, os três porquinhos da sociologia: Durkheim, Marx e Weber. Para Durkheim, os indivíduos são como um organismo: para seu bom funcionamento, devem prezar pela solidariedade, a fim de que o "corpo social" não adoeça (anomia). Marx - o mais revoltado de todos - denuncia uma desigualdade econômica entre os indivíduos: uns comem caviar e outros, o que vier. Impossível haver uma "solidariedade", enquanto os meios de produção não forem compartilhados. Abre parêntesis. Direitos Humanos só existe na faculdade de Direito... Fecha parêntesis. O que dizer do pensamento dominante? Segundo Marx, as condições materiais determinam as formas de pensar. No entanto, outro pensador surge em cena, criticando a visão dogmática marxista acerca do imaginário humano. Surge Max Weber (palmas pra ele!). Com uma proposta de considerar a realidade plural, inapreensível, dinâmica... Weber postula que os indivíduos devem ser compreendidos por seus significados partilhados. A retórica marxista de dominados versus dominadores recebe uma baita crítica no clássico "Ética protestante e o espírito do capitalismo". Como criticar o serviço numa categoria que o relaciona como elemento que dignifica o homem?

Weber é um camarada bastante utilizado pela Antropologia, bem como outras disciplinas que buscam entender a diversidade cultural. Atualíssimo, me faz entender o comportamento "cordial" dos brasileirinhos. Nosso "jeitinho" foi (profeticamente) estudado pelo teórico, quando destacou as características do patrimonialismo. O embaralhamento das esferas pública e privada se apresenta como elemento constitutivo de nossa identidade nacional (quer você queira ou não, caro leitor) - como destaca Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil. A gente corre o risco de achar que tudo é o quintal de nossa casa. Os exemplos mais lembrados se referem aos engravatados de Brasília, quando desviam dinheiro público para suas polpudas contas bancárias (privadas). Mas, antes de pensar nos outros, por que não penso em meu patrimonialismo de cada dia? Um estágiário que imprime um documento no ambiente de trabalho está exercendo um comportamento patrimonialista? E se for estudante de Ciências Sociais e leitor de Weber? Muito prazer. Dia desses, após imprimir um documento, onde faço estágio, me dei conta disso (com o papel ofício em mão). Sem representar um falso moralismo (os filmes da Sessão da Tarde já fazem isso muito bem, obrigado!), te convido a refletir comigo. "Isto aqui, ô ô, é um pouquinho de Brasil, iá iá!"